Um momento icônico em “Um Bonde Chamado Desejo” apresenta um homem rude, com a camiseta em pedaços, sob a chuva, clamando pela esposa. Essa atuação como Stanley Kowalski valeu a Marlon Brando a primeira de várias indicações ao Oscar de Melhor Ator, marcando o início de sua trajetória como ícone do cinema mundial.
Marlon Brando deixou um legado significativo, destacando-se tanto por seu talento excepcional quanto por seu comprometimento com o ativismo político. No que marcaria seu centenário e onde o vigésimo aniversário de sua morte se aproxima, surge a oportunidade de revisitar uma vida repleta de reviravoltas intensas.
Nascido em 3 de abril de 1924, em Omaha, Nebraska, Brando revelou desde cedo um talento notável para a atuação. Sua juventude tumultuada foi marcada por tragédias familiares ligadas a abusos sexuais de sua babá e ao alcoolismo de sua mãe. Em busca de identidade, o ator frequentemente canalizava suas experiências pessoais para suas interpretações.
Ao contrário do estilo shakespeariano e teatral adotado por muitas estrelas de Hollywood, Brando abraçou o método de atuação, uma abordagem emocionalmente intensiva que redefiniu os padrões para atores contemporâneos. Seu papel icônico como em “Uma Rua Chamada Pecado” solidificou o início de uma carreira do que viria a ser um dos maiores atores da história do cinema. “O contraste entre o estilo de atuação de Brando e o estilo clássico de Vivien Leigh, intérprete de Blanche Dubois, é um dos pontos altos da adaptação de Tennessee Williams
Durante as décadas de 50 a 70, Brando foi uma figura proeminente, conquistando seu primeiro Oscar em 1955 pelas mãos de Bette Davis. Sua segunda vitória viria por sua interpretação histórica de Vito Corleone em “O Poderoso Chefão”, honra que recusou em protesto contra o tratamento dos Nativos Americanos em Hollywood.
Sua performance como Dom Corleone é considerada sua performance mais relevante por audiências atuais, porque poucos são aqueles atores que se equiparam com o que Marlon promoveu na obra-prima de Francis Ford Copolla.
Para além da tela, Brando desafiou as normas sociais de sua época, não apenas através de suas atuações, mas também ao ser abertamente honesto sobre sua sexualidade. Seu ativismo pelos direitos civis e sua oposição ao estigma LGBT o marcaram como uma figura progressista, usando sua influência para impulsionar mudanças sociais significativas.
Não era segredo nenhum que Brando era um ator sexualmente voraz e bastante intenso. Historiadores afirmam que Brando se aventurou tanto com homens quanto com mulheres durante sua estadia em Hollywood . Marlon teve pelo menos 11 filhos durante sua vida, com diferentes parceiras. A imagem de rebelde na década de 50, fez com que Brando envolto em uma jaqueta de couro se tornasse um símbolo sexual em contraponto ao moralismo vivenciado em solo americano na época.
O ator também era uma figura naturalmente política, se expressando abertamente sobre as falhas do sistema Norte-Americano e da corrupção em Hollywood, se posicionando contra a segregação e Apartheid. Um de seus atos mais controversos ocorreu no No Oscar de 1973, quando o ator indicado pelo Patriarca dos Corleones não participou da cerimônia e mandou Sacheen Littlefeather, uma atriz nativa-americana em seu lugar para recusar o prêmio.
Brando, conhecido por sua intensidade, também teve uma vida pessoal tumultuada, com relações conturbadas com a imprensa, lutas pessoais, problemas financeiros e familiares. A última década de sua vida foi desafiadora, marcada pelo suicídio de sua filha Cheyenne e por problemas de saúde graves devido à obesidade.
Sua postura desafiadora no set, adiando cronogramas de filmagem por motivos inconstantes, gerou atritos com diretores conceituados, seja dificultando o trabalho de Copolla durante as filmagens de ‘Apocalypse Now’ ou insultando o diretor Frank Oz, quem comparou com o muppet Miss Piggy.
A morte de Marlon Brando em 1º de julho de 2004 encerrou a trajetória de um ator notável, responsável por performances históricas no cinema e por disseminar um novo método de atuação. Seu impacto nas artes cênicas, aliado às suas contribuições sociais, assegura que Marlon Brando seja lembrado como mais do que um simples ator, mas como uma figura que inspira artistas e incita reflexões sobre a natureza da fama e autenticidade.