Ingrid Bergman entrou no palco do Oscar de 1969 para apresentar a categoria de Melhor Atriz com o envelope contendo o resultado em mãos. Depois de anunciar brevemente as indicadas, abriu o envelope e, visivelmente confusa e surpresa, externou: Katherine Hepburn e Barbra Streisand tinham sido consideradas as vencedoras. Havia ocorrido um empate.
Até o momento, isto só havia ocorrido em duas edições na cerimônia: em 1931 e 1949, então o anúncio de um empate em uma das categorias mais disputadas da noite pegou o auditório de surpresa. Streisand e Hepburn se encontravam em momentos muito distintos em suas carreiras.
Então…como isso aconteceu? O Terreno sociocultural da época, atuações impactantes e um pequeno homem chamado Gregory Peck ajudaram na criação deste momento icônico.
Barbra Streisand por ‘Funny Girl’
Baseado no musical de mesmo nome, ‘Funny Girl’ trata da vida e relacionamentos da atriz Fanny Brice, personagem que Streisand originou na Broadway. Conhecida por seus especiais de televisão, voz arrasadora e vitórias no Grammy; Barbra Streisand não era uma desconhecida para o mundo do entretenimento e sua estreia no cinema era apenas uma questão de tempo.
Nas mãos de William Wyler, que dirigiu muitas divas Hollywoodianas em atuações premiadas, Barbra teve uma estreia criticamente aclamada. Sua performance como Fanny Bryce é incomparável do ponto de vista musical e o ponto alto do filme. Destoa de outros musicais da época, com muitos protagonistas despreparados musicalmente ou então emocionalmente desvinculados à história que representavam.
O timing cômico da Fanny de Barbra é algo difícil de ser replicado em demais revivals de Funny Girl ou produções independentes da história. Assim como seus vocais únicos em interpretações de ‘I’m The Greatest Star’ e ‘Don’t Rain on my Parade’.
Presidente da Academia na época, Gregory Peck, teve a oportunidade de assistir o filme antes de seu lançamento oficial. Certo de que a jovem, então com 26 anos, seria uma favorita na Indicação a melhor atriz; garantiu a ela um lugar como membro votante da academia – o que muitos afirmam, ajudou a garantir sua vitória.
O fato que o mercado cinematográfico da época, em um mundo pós ‘Noviça Rebelde’ e ‘My Fair Lady’, olhava com apreensão para musicais; com isso ajudou a destacar os aspectos positivos de ‘Funny Girl’ e a interpretação de Bárbara.
Katherine Hepburn por “Lion in the Winter”
Katherine Hepburn já estava consolidada como uma das maiores atrizes de sua geração quando participou de ‘Lion In The Winter’. Em 1968, ganhou seu segundo Oscar de Melhor Atriz por ‘Guess Who ‘s Coming for Dinner’, ao mesmo tempo que lidava com a súbita morte de seu amigo – e paixão- Spencer Tracy. A chance de participar do drama histórico ajudou a veterana no processo de luto.
No longa, Katherine interpretou a Rainha Eleanor da Aquitânia, a matriarca da Família Real Britânica em tempos medievais. Sua interpretação da rainha sarcástica, em sua sonoridade tipica, exalava um charme exclusivo de Hepburn. Muitos especialistas da época acreditavam que as flexões únicas da atriz, embora não se relacionassem com o tempo ou local que o filme se passava, ajudavam na criação de uma interpretação única nas mãos de Hepburn.
O mercado cinematográfico americano de 1960 foi um terreno muito afetado pela conhecida ‘invasão britânica’: atores naturais da Grã Bretanha começaram suas carreiras em Hollywood, cineastas e narrativas envolvendo obras de autores britânicos se tornaram extremamente populares… E ‘Lion In The Winter’ pode não ser muitas coisas, mas com certeza é britânico.
Com as indicações temos dois opostos: uma novata em uma performance única para o início de uma carreira e uma veterana que criou boa fé o suficiente para garantir sua vitória depois de décadas na Academia. O fato dos dois filmes, respectivamente, se tratarem de um musical e um drama britânico- dois queridinhos da Academia da época- foi algo que acirrou a disputa.
No final do dia, o voto de Streisand provavelmente fez a diferença e garantiu um Oscar de Melhor Atriz para sua (vasta) coleção de prêmios. Barbra e Katherine, embora tenham vindo de meios sociais distintos, causaram impactos semelhantes durante suas longas carreiras, colocando em perspectiva o feminino no meio cinematográfico. É no mínimo, interessante, que ambas atrizes dividiram esse momento… um que entrou para a história da Academia.