Para todo membro da comunidade LGBTQIAPN+ a questão da visibilidade em qualquer tipo de veículo é algo de extrema importância, pois muitos de nós cresceram sem nenhum exemplo além do heteronormativo então poder se ver e acompanhar a vida de um personagem que faz parte dessa comunidade é algo tão incrível que eu não consigo descrever. Com a popularidade dos YAs (Young Adult) envolvendo nossa comunidade em forma de conteúdo na literatura, é óbvio que isso seria um alívio para todos nós, porém sabe quando falta alguma coisa? Aquela pontinha de verossimilhança com o que vivemos no dia-a-dia da nossa cultura? Então… Sempre adentramos em histórias que envolvem o ensino médio americano e todos os dramas que envolvem esse universo, mas e o nosso universo? Eis que me chega um belíssimo escritor que conseguiu trazer para a literatura brasileira algo que todos nós ansiamos por muito tempo: UM MILHÃO DE FINAIS FELIZES (ou como eu conheci: piratas gays).

Como posso descrever esse livro? Hm… Um misto de AI MEU DEUS e PELO AMOR DE DEUS EU NÃO CONSIGO PARAR DE CHORAR. É, eu acho que assim está bom.

O enredo aborda a história de Jonas, um menino que mora em Niterói e que acabou de completar o ensino médio, onde seu maior sonho é se libertar da rinite alérgica que o ato de estar no armário causa (e também ser escritor, isso é bem importante), porém ele vive com uma família extremamente conservadora e religiosa que o impede de fazer isso… Até que ele conhece um ruivo maravilhoso no trabalho. Ai tudo muda né? Ainda bem.

Essa OBRA DIVINA MARAVILHOSA DOS CÉUS aborda assuntos tão sérios de uma forma tão descontraída e ao mesmo tempo que toca o fundo da sua alma e te faz chorar em plena aula de português (sim, na época que eu li eu estava terminando o ensino médio e lembro até hoje de ter terminado o livro no final do intervalo entre as aulas e eu só sabia chorar a ponto de ter que sair da sala e tomar uma água… MUITO OBRIGADO VITOR MARTINS!), porque ele vai desde o conservadorismo junto ao preconceito religioso, passando pelo preconceito dentro do próprio meio LGBT e abordando relações tóxicas no âmbito familiar, até mesmo o distanciamento de amizades que eram importantes para o personagem.

A trama vai se desenrolando a partir da rotina do Jonas junto ao seu projeto de escrita onde ele fantasia toda uma história de dois piratas que se apaixonam, e isso vai se entrelaçando de uma forma tão fluída porque ele insere aspectos de sua própria vida dentro dessa história e cada momento é crucial para o desenvolvimento de Jonas e, como consequência, o desenvolvimento dessa fic. Uma história que conta a história de um escritor escrevendo uma história… E assim Vitor Martins quebra a matrix.

Esse livro foi tão importante pra mim porque eu estava saindo do ensino médio e me via em situações bem parecidas com o personagem principal (tirando o fato que eu já tinha me livrado da rinite), então ter lido ele me fez sentir tão bem por ver um personagem real com problemas reais ali no meio daquelas páginas, na qual eu poderia me identificar com cada aspecto do personagem.

Mesmo sendo o segundo livro do autor, eu tenho certeza que a profundidade e o público que esse livro atingiu é algo que estará marcado na literatura brasileira e eu fico tão feliz que livros como esses estão cada vez mais ganhando espaço nesse mercado. É um prazer tão grande se ver em meio aquele turbilhão de palavras e saber que, não só eu, mas a comunidade LGBT em si está sendo representada dentro da literatura brasileira, e que isso pode ajudar várias pessoas que estão vivendo o mesmo dilema que o Jonas viveu, trazendo conforto e mostrando que por mais difícil que seja, aquela situação vai passar.

O que eu tirei de aprendizado com esse livro, carregarei pra sempre comigo: seja você mesmo e não tenha medo de amar, até porque amar é bom demais.

P.S. tem uma ceninha no livro que talvez tenha o meu dedinho lá no meio porque né… Eu lembro até hoje quando eu tava lendo e eu só sabia gritar. Obrigado pelos mimos Vitor.

Arte por @holiventrae

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